A quem pertence o Botafogo?

A crise financeira pela qual passa o Botafogo é resultado de um processo de anos, reflexo da estrutura aristocrática que toma conta e gerencia a grande maioria dos clubes de futebol brasileiros. Gerido desde sempre pelos mesmos sócios abonados, cujos interesses pessoais (e de classe) estiveram sempre a frente do bem comum do clube e seus apoiadores, o clube caminha a passos largos para uma completa insolvência financeira, inviabilizando sua atividade e possivelmente até sua existência.
É o profundo retrato das estruturas oligárquicas que governam nosso país à revelia de quem os sustenta em seus postos. O Botafogo, assim como qualquer outro grande clube de futebol, não sustenta sua existência pelo poder do capital financeiro e sim pelo entusiasmo das massas ensandecidas que acompanham sua estrela nas canchas aos finais de semana ou mesmo nos piores dias e horários em dias comuns após extenuantes jornadas de trabalho. Já passa da hora de compreender que a ordem daquela frase que diz “o torcedor é o maior patrimônio do clube” é, na verdade, a inversa: o clube é que é o maior patrimônio da torcida!
Antes de clamar por uma privatização, é preciso lembrar que o futebol é (ou ao menos deveria ser) patrimônio daqueles que construíram o espetáculo ao longo de todo o século passado e não daqueles que passaram todos esses anos lucrando com isso. O jogo não existe sem eles. O esporte, como um todo, não pode ser construído e gerido visando somente os interesses de grupos oligárquicos ou do grande capital financeiro. Jogador não é máquina e torcedor não é cliente.

Em tempos aonde o jogo é jogado para arquibancadas vazias somente para cumprir tabela e satisfazer os bolsos de dirigentes e patrocinadores é preciso pensar qual é o nosso papel nisso tudo. Para quem a bola rola?
A construção da saída deveria passar pela abertura democrática do clube a seus apoiadores e não pela mão somente dos que possam investir e clientelizar nossa participação. Futebol é mais que um esporte, é patrimônio popular imaterial e possui função social e por isso não deveria estar nas mãos de uma dezena de velhos brancos ou de um par de bilionários.
Se quisermos modificar a lógica que governa essa estrutura é preciso ocupá-la, da mesma forma que o faz qualquer movimento social no cotidiano político mais abrangente. Torcedores precisam ter voz, estar no cotidiano de seus clubes e federações tanto quanto estão nas arquibancadas. Lutar pela democratização do esporte é lutar pela sua valorização dentro e fora dos campos. A solução para o Botafogo é também a solução para o futebol.